quinta-feira, 29 de outubro de 2009

A música em uma visão bíblica


Atualmente, Deus está despertando a Igreja para o potencial de serviço que as artes têm. Notamos isso através de livros, revistas e periódicos dedicados às artes sob uma perspectiva cristã, criação de departamentos de música, definição de papéis diversos do músico dentro do ministério (tecladista, guitarrista, baterista, trompetista, saxofonista, trombonista, vocalista, etc), diferentemente do papel do músico de 20 anos atrás que resumia-se a alguém envolvido com o coro da igreja: ou como cantor, ou como regente. Além disso, temos hoje um participação ativa da música no ministério de evangelismo e nos movimentos de adoração, além de termos bastantes músicos profissionais que utilizam seus talentos a serviço da obra de Deus. Esta realidade nos incentiva a um estudo mais aprofundado das artes na Igreja, sendo o objetivo do presente trabalho fazer algumas considerações sobre uma dessas artes: a Música.


2 DESENVOLVIMENTO

2.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A música é freqüentemente mencionada na Bíblia, pois cantar era parte integrante da cultura hebraica. O livro de Salmos é um hinário que nos exorta a cantar ao Senhor (Sl 149.1). Os israelitas não apenas cantavam em adoração a Deus, mas também cantavam enquanto trabalhavam (Nm 21.16-18). Davi cantou uma de suas composições quando da morte de Saul e Jônatas (2Sm 1.19-27), e, conforme está escrito no livro de Apocalipse, cantaremos, e muito, no céu! (Ap 19.1-8).

Há também na Bíblia muita música instrumental. A palavra selah, que aparece em todo o livro de Salmos (71 vezes), refere-se a um interlúdio instrumental entre as estrofes da música vocal. A nação de Israel era convocada para diversos eventos através de toques de trombetas: reuniões, para levantar acampamento, festas, comemorações, para a adoração, em campanhas militares, entre outros (Lv 23.24, Js 6.20, Jz 3.27, Sl 150.3).

A segunda volta de Cristo será anunciada por trombetas (Mt 24.31) e também a ressurreição dos mortos (1Co 15.52). A Bíblia também menciona vários instrumentos musicais como a flauta, a lira, a harpa e instrumentos de percussão (1Sm 10.5, 1Rs 1.40, 1Cr 25.1, Sl 45.8 - 150.3, Mt 9.23).


2.2 EM QUEM O MÚSICO CRISTÃO DEVE SE ESPELHAR?

Em função de problemas causados por músicos rebeldes dentro das igrejas, aliado à tendência do povo em generalizar, hoje nós, os músicos, temos fama de complicados, egocêntricos, orgulhosos, indisciplinados e outras coisas mais. O ministério musical tem algumas peculiaridades, pois a música tem o poder de acalmar os ânimos, restaurar as emoções, alegrar os corações, tranqüilizar os ouvintes, enfim, são peculiaridades da música e que "favorecem" a rebeldia dos músicos dentro das igrejas, por exemplo:

O músico é tão habilidoso e talentoso que, ao tocar ou cantar, torna-se tão agradável aos ouvintes, que estes, naquele momento, esquecem-se da rebeldia de quem está tocando ou cantando (inclusive com manifestações eufóricas), levando aquele músico a achar que não deve mudar de vida pois "agrada" aos irmãos quando toca ou canta. Essa atitude de não mudar de vida contraria o que diz a Bíblia (2Co 5.17) acerca da "nova criatura".

Quem tem um verdadeiro encontro com Cristo começa um processo de "santificação" caracterizado pela renovação do pensamento, separação e purificação de todas as coisas que não agradam a Deus (Rm 12.1-2). O músico deverá rever continuamente suas atitudes com respeito a tudo; conhecer mais de perto quais as razões que nos levam a tocar ou cantar; comparar a nossa vida Àquele que dever ser o nosso exemplo: JESUS CRISTO. Ao tomarmos Cristo como nosso exemplo, temos que copiar-Lhe as seguintes características:

Compaixão e misericórdia - Jesus era uma pessoa totalmente entregue às demais (Mt 9:36, Mt 14-14, Mc 1.41) e que deu Sua vida para o resgate de muitos (Mt 20.28).


O "SERVIR" e o "DAR" devem nos caracterizar como discípulos de Cristo. Nessas palavras resume-se o Fruto do Espírito o qual deveríamos ter: amor, gozo, paz, paciência, benignidade, bondade, fé, mansidão e domínio próprio (Gl 5.22).


3 "ARTISTAS" OU SALMISTAS?

Infelizmente, no âmbito cristão e não apenas no ambiente mundano existem as más atitudes e os egos fora de controle. Uma das coisas que caracterizam tais atitudes são as listas de exigências que artistas "cristãos" pedem quando são convidados para "apresentar-se". Estas listas incluem desde especificação de som, tipo de hotel, até a marca de chicletes e balas para serem utilizados durante o evento. Já pensaram se Cristo fizesse tais exigências para fazer o que veio fazer: SERVIR e DAR? Portanto, se desejamos que o nosso ministério reflita a Cristo, devemos deixar de ser "artistas" e convertermos em "salmistas". Conforme o dicionário, o significado da palavra "salmista" é "compositor de salmos; o que canta", e os Salmos eram o cântico sagrado dos hebreus em louvores a Deus. Ao contrário do "artista", o "salmista" tem um significado mais profundo, dando a entender que é uma pessoa que, além de tocar ou cantar bem, é consagrado a Deus e separado para Ele; é alguém que está consciente da necessidade do Espírito Santo em sua vida e em sua música.


4 A MÚSICA NA BÍBLIA

É necessário que estudemos melhor sobre a música como um serviço do Corpo de Cristo, um meio de serviço ao Senhor e ao Seu povo. Devemos entender qual o lugar que a música ocupa na Palavra e na Igreja contemporânea. Tendo em vista a quantidade de versículos que mencionam a música, os cânticos, o louvor, a adoração, o regozijo ("cantar com gozo") e os instrumentos de música, entendemos que a música é algo muito importante para Deus. Em Sl 100.2, Deus ordena que nos acheguemos a Ele com louvor retumbante e com cânticos: "Servi ao Senhor com alegria...". A palavra hebraica que se emprega para "alegria" é ramanah, que significa "clamor retumbante". O maior livro da Bíblia, Salmos, é o livro dos cânticos. Logo, a música, o canto, o louvor e a adoração têm um lugar muito importante no coração de Deus.

4.1 PERSONAGENS MUSICAIS NA BÍBLIA

O Novo Dicionário Bíblico e alguns comentaristas consideram que a música foi "inventada" por "Jubal filho de Lamec" baseando-se em Gênesis 4.21 onde está escrito que Jubal era o "pai de todos os que tocam harpa e flauta". Sabemos, porém, que a música foi inventada por Deus mas que Jubal foi o primeiro homem citado na Bíblia como músico. Um detalhe importante é que Jubal tinha um irmão chamado Jabal, o qual foi o "pai dos que habitam em tendas e criam gados" (Gn 4.20), ou seja, os pastores. Tal fato, leva-nos à reflexão de que pode existir uma relação muito próxima entre os que são músicos e os que são "pastores de ovelhas".

Ao estudarmos a vida e a liderança de Moisés, vemos que, se ele não sabia tudo sobre música, tinha um bom conhecimento dela, pois, em um dia, compôs um cântico e o ensinou integralmente ao povo de Israel (Dt 31.19-22). Além do mais, Moisés foi criado no palácio de Faraó, e um dos costumes nas casas dos reis naquela época era ensinar a música aos filhos desde a mais tenra idade. Deus queria que Moisés tirasse o Seu povo do Egito para que, uma vez livres da escravidão e da opressão, tivessem a oportunidade de servi-Lo, ou seja, "adora-Lo, trabalhar para Ele e render-Lhe culto" (Ex 3.12). No momento em que Moisés e Arão foram falar com Faraó, disseram: "Assim diz o Senhor Deus de Israel: deixa ir o meu povo para que me celebre uma festa no deserto" (Ex 5.1). Neste sentido, Moisés foi também um "mestre de louvor", pois "dirigiu" o povo de Deus a um lugar específico para servi-Lo (celebrar-Lhe uma festa, oferecer-Lhe sacrifícios e adorá-Lo).

Davi é talvez o músico mais conhecido da Bíblia. Enquanto pastoreava as ovelhas do seu pai, compôs belos salmos ao Senhor. De todos os homens mencionados na Bíblia, Davi foi o único de quem Deus disse que era um homem segundo o Seu coração. Davi instituiu várias coisas no serviço da música, organizando-o de forma bastante detalhada, dando origem ao que é chamado de "Estrutura Musical Davídica", cujos aspectos são comentados a seguir:

. Constituição de um grande grupo de levitas para tocar os instrumentos feitos pelo próprio Davi. Eram 4.000 músicos instrumentistas (1Cr 23.5);

. Músicos dedicados ao serviço de louvor em tempo integral (1Cr 9.33);

. Seleção de pessoas para o serviço do louvor - As palavras "designassem", "colocou" e "separaram" utilizadas em diversas passagens do primeiro livro de Crônicas (15.16-17; 6.31; 16.4; 25.1), nos mostram que não era qualquer pessoa que ministrava o louvor, havendo uma preocupação de quem "escolhia" e de quem era "escolhido", pois que levavam tão a sério o papel da música a ponto de se dedicarem integralmente a esse ministério, com disciplina, esmero e responsabilidade;

. Ênfase à maneira de se vestir (1Cr 15.27) - Nossa aparência é importante ao estarmos representando o Grande Rei dos reis no ministério do louvor. Essa maneira de se vestir não diz respeito a que tenhamos uma roupa de "linho fino", como a dos levitas, mas a que nos cuidemos para estarmos com uma roupa limpa, bem passada e, sobretudo, vestidos dignamente para uma ocasião tão especial em que estamos louvando Àquele que é Rei dos reis e Senhor dos senhores;

. Davi encarregou o serviço do louvor a pessoas que sabiam o que estavam fazendo, ou seja, eram pessoas conhecedoras e preparadas para a música (1 Cr 15.22). O conhecer e o saber são muito importantes não só no serviço da música, como em qualquer outro. Porém, não devemos simplesmente sermos instruídos na parte técnica, mas também, sabermos que esse preparo e conhecimento musicais devem ser utilizados para a exaltação Daquele que é digno de toda a honra, de toda a glória e de todo o louvor (1Cr 25.7).

. Música, canto e louvor 24 horas por dia - este é outro aspecto importante da estrutura musical Davídica (1Cr 9.33; 16.37; 16.40). Inclusive, em Salmos 134.1 é feita uma menção a essas jornadas. Aprendemos com isto que nossas atitudes, nosso estilo de vida e nossa entrega a Deus deve ser total e contínua em tudo o que fazemos.

. Ordem, no sentido de organização e administração (DETALHES) - A preocupação com os detalhes iam desde a forma como deveriam se vestir até a acomodação física dos músicos no tabernáculo de reunião (1Cr 6. 39 e 44). Até o lugar onde deveriam parar havia sido especificado, havendo, portanto, ordem, organização e estrutura (1Cr 15.24). Asafe era o "primeiro" diante da arca, e ele "fazia ressoar os címbalos" (seção de percussão); em "segundo lugar" estavam Zacarias e um grupo de irmãos com ele os quais tocavam "alaúdes e harpas" (seção de cordas); e depois deles, estavam os sacerdotes Benaia e Jaaziel, os quais tocavam "trombetas" (seção de sopro). A música que tocavam, quem as tocava e quais as posições que deveriam tomar, TUDO tinha sido perfeitamente planejado e preparado.

. Designação de certas pessoas responsáveis por certas áreas - Seria muito difícil para Davi ordenar e administrar tudo sozinho. Daí, a necessidade de se designar líderes aos quais os levitas deviam submissão no serviço do louvor. Vemos aqui que Davi sabia delegar autoridade, uma das características de uma administração descentralizada e participativa. Davi entendia a importância da cadeia de comando e não tinha complexo de superioridade, nem era autoritário ou ditador. Por outro lado, vemos que os levitas se submetiam à autoridade de seus líderes, pois não haveria autoridade sem submissão. Todos os músicos estavam debaixo de autoridade (1Cr 25.6). Quando somos submissos à autoridade, temos facilidade, tranqüilidade e confiança para delegar autoridade a outros e a exigir-lhes obediência. Porém, quem tem autoridade, não deve abusar dela e sim, administrar com sabedoria, a autoridade concedida por Deus para o bem-estar do Corpo de Cristo.

. Colocação da Arca de Deus no meio da tenda em local acessível a todo o povo - Este foi um fato inédito que Davi fez, pois, Deus havia dito a Moisés que a Arca deveria ficar atrás do véu, no Lugar Santíssimo! E Deus não reprovou este ato, pois não deu ordens para colocar a arca de volta ao Seu lugar. Quase todos os comentaristas da Bíblia concordam que este foi um "privilégio" muito grande para o povo de Israel quando Deus, por um espaço de tempo, estava permitindo um acesso mais aberto a todo o Seu povo, caracterizando uma prévia do que haveria de vir: Cristo derramaria o Seu sangue, o véu do templo se rasgaria e, algum dia, todos os povos, línguas, tribos e nações teriam um acesso direto ao Pai através do sangue do Cordeiro derramado na cruz do Calvário!


5 CONCLUSÃO

A estrutura musical Davídica nos mostra que tudo que tocamos (instrumentos musicais) e tudo o que cantamos deve ser direcionado ao louvor a Deus; não importa onde o façamos, estaremos diante do trono do Senhor, para agradá-Lo, e para oferecermos sacrifícios somente a Ele, e a mais ninguém. Todo o nosso serviço deve girar em torno da Sua presença! Glórias a Deus!


BIBLIOGRAFIA

WITT, Marcos. O que fazemos com estes músicos? - São Paulo: W4ENDOnet Comunicação e Editora, 2003.

NOLANDY, Rory. O coração do artista: construindo o caráter do artista cristão - São Paulo: Fundação Batista Central WCA/Ekklesia e W4ENDOnet Comunicação e Editora, 2002.

Um comentário:

Anônimo disse...

Paz Leonardo!!!!!
Bom artigo.
Sabe benção, o que eu acho estranho, e ruim, é que alguns ex famosos, se "convertem" e vem para a igreja como artistas, com o mesmo estilo de musica, só mudando as letras, (pagoge, axe, forro, etc...) Eu não gosto, mas não condeo os ritimos,
O que me desagrada é a duvida, será que estão realmente em mudança de vida?Ou querem um ovo mercado?
E porque obrigatoriamente tem que cantar o mesmo estilo?
E porque continuam "artistas", cobrando cachês tão altos?Não é para evangeliar?E não temos que dar de graça o que de graça recebemos?
E quanto a cantar na IGREJA, é impoortante louvar a Deus, mas algumas músicas nos faem dizer ao Senhor o que não estamos sentindo no momento, fazendo assim, adoração de lábios......

ah....

é isso,
Paz!!!!!